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domingo, 10 de janeiro de 2016

A decadência do voto


"Pela primeira vez, há no planeta mais sistemas democráticos e mais alternâncias democráticas de governo do que nunca. [...] Actualmente, o número de países democráticos – em distintas fases de consolidação – é superior, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a 85. Ou seja, a democracia converteu-se no sistema de governo com maior legitimidade no mundo global. No entanto, nunca estivemos tão descontentes com a democracia. Os sintomas deste mal-estar são mais visíveis a cada dia que passa. O número de potenciais eleitores que decide não votar é cada vez maior. Segundo uma sondagem realizada pela Gallup Internacional em sessenta países «democráticos», só um em cada dez inquiridos pensava que «o governo do seu país obedecia à vontade do povo».

[...]

Ou seja, estamos perante um paradoxo dramático: nunca tivemos tanta democracia, mas também nunca houve tanta desafectação e tanta desconfiança em relação à democracia representativa. Entre as causas dessa desafectação podemos listar as seguintes dez: 1) demasiadas desigualdades (ricos cada vez mais ricos, pobres mais pobres); 2) crise do Estado e do público, atacados pelas teorias neoliberais ligadas ao «Estado mínimo»; 3) falta de uma sólida cultura democrática; 4) efeito negativo dos casos de corrupção (tão frequentes em Espanha); 5) dificuldades na relação entre os partidos e o resto da sociedade civil; 6) subordinação da actividade política aos poderes fácticos (mediáticos, económicos, financeiros); 7) submissão dos governos às decisões das organizações supranacionais (e não democráticas) como o Banco Central Europeu (BCE), o G-20, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), a Organização Mundial do Comércio (OMC), etc.; 8) aumento dos confrontos entre a sociedade civil e os governos; 9) discriminações ou exclusões de categorias sociais ou de género (imigrantes, homossexuais, indocumentados, ciganos, muçulmanos, etc.); 10) dominação ideológica de grupos mediáticos que assumem o papel de oposição, defendendo os seus interesses e não os dos cidadãos."

Ignacio Ramonet

1 comentário:

Ricardo António Alves disse...

Trm toda a razão, o Ramonet; e ainda bem que ele pode fazer essa reflexão, pois num estado não democrático (com e sem aspas), ele nunca poderia fazê-lo.
Só nos resta a vontade e a esperança de melhorar isto, por dentro.

Abraço.